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O que a Google fará com a Motorola, seu brinquedo de US$ 12 bilhões?

Eis aqui uma charada empresarial: adivinhar as intenções da Google Inc. para a maior aquisição de sua história, o acordo de US$ 12,5 bilhões para comprar a antiga gigante, mas agora cambaleante, Motorola Mobility Holdings Inc.


A Motorola representa um dos maiores desafios estratégicos e operacionais nos 14 anos de vida da Google. Estranho é que ninguém parece estar prestando atenção.

Quando os investidores analisaram o acordo da Google, em agosto, se concentraram em como as 17.000 patentes da Motorola protegerão o sistema operacional Android, líder do mercado, de uma série de batalhas judiciais.

Mas e os 20.500 funcionários da Motorola trabalhando em 92 instalações importantes em 97 países, de Horsham, no Estado americano da Pensilvânia, a Jaguariúna, São Paulo? E as fábricas que produzem celulares e decodificadores de TV a cabo com margem de lucro baixa? E os cinco anos de prejuízos, que chegaram a US$ 5,3 bilhões?

Como a ação da Google registra uma pequena queda este ano, ante uma alta de 15% no índice Nasdaq Composite, parece lógico que a Google pode apenas vender essa dor-de-cabeça monumental e se concentrar em seu forte: disseminar as buscas na web em celulares mundo afora.

Então chegou a hora da verdade. Será que a Google realmente quer ser uma empresa que produz bens físicos?

Passei as três últimas semanas conversando com pessoas da Motorola e da Google, numa tentativa de solucionar a charada. A inquietante resposta é que aparentemente a empresa nem se preocupa em ter de escolher. Existe apenas uma fé arrogante de que a Google realmente pode ser tudo ao mesmo tempo: uma empresa de hardware com margem de empresa de software, e um vendedor de armas neutro que oferece o Android a fabricantes de celulares enquanto aparentemente prepara seu próprio exército particular com a Motorola.

O diretor-presidente da telefônica americana Verizon, Lowell McAdam, podia estar falando pelo resto da indústria de tecnologia quando teceu elogios mornos ao acordo numa entrevista. "Não é ilógico", disse ele. "Acho que isso dá a eles a oportunidade de serem um pouco mais criativos."

Os concorrentes da Google não foram tão caridosos. Um executivo rival chamou o negócio nos bastidores de "hairball", referindo-se à bola de pelos que os gatos costumam vomitar.

Pessoas próximas da Google dizem que ela planeja investir substancialmente na Motorola, sediada em Libertyville, Illinois, cuja participação do mercado de celulares se arrasta agora nos 4%. A meta, dizem as pessoas, é criar aparelhos realmente inovadores, algo que a empresa sabe que custará dinheiro e boas ideias.

O diretor-presidente da Google, Larry Page, demonstrou entusiasmo num texto recente em seu blog em que se disse "empolgado com as oportunidades".

Sozinha ela parece uma ideia valiosa – uma oportunidade de a Google conseguir concorrer no mesmo campo com a Apple Inc.

Mas o problema é exatamente esse. A Google é a cabeça empresarial e filosófica por trás do Android, o sistema operacional gratuito para celulares que ela compartilha com 55 fabricantes no mundo inteiro. O truque é desenvolver a Motorola sem afugentar esses fabricantes.

O Android é um negócio da China. Os fabricantes de aparelhos recebem um software de ponta. A Google consegue assim já incluir serviços seus como busca e mapas nos 850.000 aparelhos ativados com seu software todos os dias. A firma de pesquisa de mercado Bernstein afirma que as buscas em celulares aumentaram 144% ano passado. Isso pode se tornar um negócio de US$ 10 bilhões para a Google até 2016. Tudo isso é possível, contanto que os parceiros do Android confiem na Google.

O diretor das operações celulares da Google, Andy Rubin, está transmitindo uma mensagem que parece ser diferente da de seu chefe. Para ele, a preferência é a morte. Em fevereiro, ele disse a repórteres que haveria uma parede de proteção entre as duas empresas e que ele não tinha "a menor ideia" sobre como serão os novos produtos da Motorola. Talvez Rubin esteja vendo a rapidez com que as condições estão mudando no ecossistema Android, onde há sinais de que velhas alianças estão se desgastando.

Pessoas familiarizadas com o assunto afirmam que a Motorola representa uma cobertura conveniente para a Google caso se inicie uma guerra civil no mundo dos aparelhos Android.

Fabricar celulares, no entanto, por mais legal que pareça ser, quase não dá lucro para empresas que não sejam a Apple. No ano passado, as margens operacionais da Motorola foram negativas.

"Comparado com o que a Google faz, o negócio de smartphones tem uma contabilidade horrível", diz o analista da Bernstein Pierre Ferragu. "A razão para comprar a Motorola era fortalecer as patentes. Agora que a Google já as têm, a coisa mais lógica é vender o resto", conclui.

Já existem boatos de que a Google está avaliando vender os negócios de decodificadores de TV a cabo. Na Ásia, há rumores de que a Google já ofereceu o negócio de celulares à chinesa Huawei por um preço elevado.

Uma pessoa próxima à Google nega qualquer negociação desse tipo.

E isso pode ser a parte mais assustadora para os investidores da Google. A empresa realmente acredita que pode ser tudo para todas as pessoas.

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